Estava-mos nos finais da década de 80, o meu primo Tony, o Paulo Macaco (como o nome indica, um autentico símio!), o Jorge Luís (com o seu cabelo que mais parecia uma mitra!), e eu, partilhava-mos a mesma paixão: a Dulce Pinheiro (que na verdade não se chama Pinheiro. Porquê, não me recordo). A Dulce era a nossa fonte de inspiração, o nosso tema de conversa, a nossa musa... O que fazer para poder aproximar a deusa? Convidá-la para uma saída até a discoteca, estava fora de questão. Discoteca rimava com coisa impura, nojenta, onde o mal estava presente... Como estávamos explicitamente proíbidos de visitar tais locais mundanos, dávamos por vezes na garagem de um de nós, uma festa a que carinhosamente chamava-mos de: convívios... Eu sei, convívio parece coisa de atrasados mentais, mas estávamos expressamente proibidos de chamar "festa" aos nossos ajuntamentos (soava a coisa pagã). Convidava-mos toda a maralha que conhecia-mos para (lá está), convivermos! Confesso que olhando para trás aquilo era, como que a modos, de uma valente azeiteirada. Atenção, desengane-se quem pense que a malta aproveitava essas ocasiões, para estreitar melhor a nossa relação com alguma moçoila... Nada! Erramos proibidos de dançar essa coisa do Demo, que são os slow's! Dançar agarradinhos, era meio caminho andado para a fornicação! Nos nossos "mega convívios", tínhamos sempre alguém "responsável", que olhava por nós (a juventude frágil e ingénua...), e que não nos deixava cair em tentação! Um espécie de provedor do convívio (!), que nos dizia até onde podíamos ir, e o que dançar... Depois veio essa coisa, directamente das entranhas da terra, a música mais ouvida no inferno, uma dança apadrinhada por Satanás: a Lambada! Bem, aí, o simples facto de escutar tão repugnante música, dava quase direito a ser executado logo ali!
Resumindo, uma autêntica ditadura e uma palhaçada bem ao nível de um grande circo internacional (para bom entendedor, meia palavra basta...)! Quão ingénuos nós éra-mos (e alguns continuam a se-lo). Quão fácil era manobrar as nossas pequenas mentes, ao sabor de alguns atrasados mentais, que gostavam de sentir algum poder, por conseguir que meia dúzia de "inocentes" os obedecessem.
O que recordo de bom dessa década? A música, que me faz lembrar que embora tenha perdido o melhores anos da minha vida, vou sempre a tempo de recuperar alguma coisa...