- Fase 1: Empolgação - é aquele estágio em que a pessoa sente-se “maravilhada” com a quantidade enorme de “novas luzes”- algumas bem inimagináveis - as quais são transmitidas num curto espaço de tempo para a pessoa que aceitou um suposto estudo “bíblico” com as Testemunhas de Jeová. Na verdade, não é a Bíblia que é estudada, mas um livro da organização - "Conhecimento que Conduz à Vida Eterna" - supostamente utilizado para 'facilitar' ou 'dirigir' o estudo. E só se recorre à Bíblia nas citações isoladas que o livro fornece em favor das suas interpretações peculiares. Como a maioria das pessoas contactadas pelas Testemunhas de Jeová são totalmente leigas em teologia, línguas mortas e arqueologia, elas tornam-se presa fácil para as exóticas doutrinas, tais como a proibição do sangue, do voto e do serviço militar. A maioria dos adeptos não sabe do passado da organização, do tempo em que ela elogiava as transfusões de sangue e proibia as vacinas e os transplantes de órgãos; orava pela vitória dos aliados na I Guerra e permitia o serviço às forças armadas. De qualquer modo, em que pese a esquisitice de alguns ensinos das Testemunhas, a pessoa que está sendo doutrinada é sutilmente envolvida e pensa, "minha igreja nunca ensinou essas coisas fantásticas, eram sempre os mesmos sermões cansativos - aquela coisa sem graça - por isso acho que esta pode ser a única religião verdadeira". Assim, embora sem compreender bem certos pontos, a pessoa aceita a religião pelo “conjunto” das coisas que aprendeu. Ela entra na fase da exaltação romântica e baptiza-se.
- Fase 2: Acomodação - após algum tempo de devoção à nova fé, a maior familiarização com o ambiente entre as Testemunhas de Jeová, a qual revela as mesmas fraquezas de conduta encontradas na religião anterior da pessoa, ela sente-se um pouco perturbada, mas aprende a “acomodar” a situação, atribuindo tais coisas à imperfeição humana. A empolgação inicial passa. O fiel apega-se à religião pela sensação inicial de “libertação” que tinha nos tempos de batismo. No entanto, algumas dúvidas que a pessoa tinha “varrido para baixo do tapete” começam a aflorar-lhe na mente. Ela é incentivada a “esperar em Jeová” e deixar que tais coisas se esclareçam por si mesmas com o tempo. Contudo, ao invés de explicações satisfatórias a pessoa é constantemente alertada para o perigo de se buscar o entendimento de tais pontos fora da organização. A pessoa dá-se conta de que existe um aparato de censura. Fala-se em apostasia como se fora a peste negra da idade média. A pessoa fica dividida entre manter seu conforto emocional por não investigar tais rumores ou passar adiante doutrinas com as quais já não concorda de coração. Da tribuna, os fiéis são incentivados a ler a literatura da organização e gastar mais tempo na pregação, pois, afinal, o ARMAGEDOM ESTÁ PRÓXIMO E TODO AQUELE QUE QUESTIONAR OS ENSINAMENTOS DA ORGANIZAÇÃO SERÁ DESTRUÍDO. De modo que, por temor da morte, a pessoa prefere prosseguir como está. Para ela, abandonar a organização ainda é O MESMO QUE ABANDONAR A DEUS.
- Fase 3: Pensamento independente - nesse estágio, as dúvidas tornam-se perturbadoras e a pessoa já consegue ter algum grau de autonomia de ideias. Por exemplo, ela talvez decida quais requisitos da organização vai atender ou não, quais ensinos vai passar adiante ou não. Ela já não tem certeza de que esta é a única religião verdadeira. Também, o conceito de “paraíso espiritual” já não convence. Ela continua a comparecer às reuniões e à pregação, mas já não é mais a mesma do início. Talvez já não concorde com o banimento social imposto àqueles que se afastam da organização por motivo de discordância e até conversa com eles, desde que não haja alguém da congregação observando. É muito comum, nessa fase, a chamada “vida dupla”, na qual a pessoa tem de representar um papel perante os irmãos de fé e outro na sua vida social. Um certo dia, chega às mãos da pessoa uma literatura de um ex-membro da organização ou ela acede por curiosidade a informações da internet. Ainda que receosa, ela se atreve a examinar às escondidas o assunto e o que ela vê, a princípio, a deixa bastante abalada. Ela examina as referências da matéria e, de fato, encontra a informação tal qual é descrita. Nesse ponto, ela passa para o próximo estágio...
- Fase 4: Conflito - a pessoa sente-se apoquentada pelo facto de imaginar que tudo o que vivenciou pode ter sido um logro. Teme comentar o assunto com outra pessoa e ser denunciada. Teme perder os amigos e a família. Por outro lado, o peso na consciência já é uma carga demasiado pesada para levar aos ombros e a pessoa sente-se frequentemente esgotada. Talvez decida envolver-se mais no trabalho ou envolvesse numa atividade que lhe permita não pensar muito no assunto. Ela pergunta-se sobre a finalidade da vida, a qual sempre esteve ligada à organização, e entra em crise existencial. É uma fase de contradições, ou seja, mesmo sabendo de certas coisas deploráveis sobre sua religião, a pessoa ainda tem a sensação de estar sendo, de algum modo, “indigna”. Outros questionamentos vêm-lhe à mente e ela “cede à tentação” e decide investigar mais o passado doutrinal da sua religião. Isso a deixa mais chocada ainda. Outros já notam que ela está “diferente”. O olhar das pessoas subitamente muda. A essa altura, alguns talvez já tenham “tomado nota” dela como alguém fraco na fé e os anciãos já começam a aproximar-se, falando de “apostasia” e de todos os perigos ligados a ela. Boatos espalham-se. A pessoa sabe que não pode colocar as suas dúvidas diante deles, pois poderá ser enquadrada e levada a uma comissão judicativa. Ela sabe que chegou a um momento crucial.
- Fase 5: Decisão - a partir desse momento, a pessoa pesa todas as consequências de deixar a organização. Talvez, em face da perda da família, do emprego e dos amigos, chegue à conclusão de que tem de viver uma farsa. Enquanto puder deixar suas convicções no “anonimato” ela o fará. Nesse caso, corre o risco a todo momento de ser denunciada e as coisas se precipitarem a um ritmo para o qual não se preparou. Outras pessoas decidem enfrentar o problema de frente e comunicam à organização a sua intenção de se afastar dela, já sabendo do alto preço que pagarão por isso. Os parentes e amigos, fazem apelos chorosos para que reconsidere a decisão, mas a pessoa sente que não pode tornar-se refém deles. Os anciãos não têm respostas satisfatórias para as perguntas e nem conseguem refutar as provas documentais. Na verdade, a maioria nem está ciente delas. Isso só convence mais a pessoa do fato de eles também terem sido ludibriados pela organização. Ao final, a pessoa é expurgada. Só aí ela sentirá na pele o que é ser banido, com pessoas virando-lhe a cara e boatos maldosos sendo espalhados sobre a vida pessoal dela. Nesse momento, compreende-se o limite do tão alardeado “amor cristão” entre as Testemunhas de Jeová. O rótulo de “apóstata” corresponde à lepra na antiga Judeia.
- Fase 6: Readaptação - a pessoa agora passa por um gradativo processo de desprogramação, no qual ela se refaz das sequelas que a religião deixou na sua vida. Precisa de fazer novos amigos, retornar a projetos de vida que tinha negligenciado em troca da religião. Na verdade, é possível que a pessoa cultive desinteresse ou até aversão por temas religiosos. Alguns ficam perdidos e adotam um estilo de vida desregrado (a organização gosta de usar o exemplo destes como prova de que ela é a única religião verdadeira, desconsiderando a própria responsabilidade dela nesse processo). Outros buscam saciar a sua sede espiritual conhecendo outras organizações religiosas, talvez filiando-se a uma delas. Ainda outros mantêm os valores cristãos básicos, mas decidem não mais se submeter à autoridade de organizações humanas (esses são os mais importantes na tarefa de esclarecer outros). Enfim, os caminhos são diversos. Todavia, a pessoa nunca mais será a mesma. Certamente será preciso algum tempo até que ela descubra que, ao contrário do que lhe fora ensinado por anos a fio, EXISTE, SIM, VIDA FORA DA ORGANIZAÇÃO!